19/12/2007

Estorias que o povo conta- Bad Good Trip


Essa estoria é para aqueles que acreditam que a vida não é soh o aqui e o que vemos.


- Por Frank - - Frank, acho que morri essa noite!
Eram três horas da manhã, quando o telefone tocou e ouvi a voz do meu amigo Marcos* do outro lado da linha.
- O que? - Perguntei.
- Eu acho que fiz uma viagem ruim, disse ele.Estranhei, porque, até onde tenho conhecimento, a rede telefônica do Além ainda não possui conexão direta com os vivos.
Projetado fora do corpo eu não estava e, só para ter certeza de que eu não estava sonhando, dei-me um beliscão.
- Marcos, você está bem?- perguntei, lembrando que meu amigo, assim como boa parte dos brasileiros que conheço em Londres, é chegada numa “balinha da alegria”.
Ele provavelmente estava alto.
- Frank, preciso falar com você pessoalmente, podemos nos encontrar amanhã?
Encontrei-me com ele no dia seguinte.
Marcos parecia alterado.
Fomos tomar um cafezinho na Praça Convent Garden.
- Nem sei por onde começar...
- Que tal me explicar essa história de você ter morrido? Você me parece bem vivinho.
- Frank, ontem à noite eu fui com os amigos para uma rave, como sempre faço aos sábados.
A noite prometia. O lugar estava cheio de gente bonita, e o som rolava bem bacana.
Antes de ir para a pista, comprei ecstasy.
Tomei minha balinha e comecei a dançar, mas algo estranho ocorreu, No lugar da habitual leveza, senti uma forte dor no peito, O coração disparou, e comecei a sentir que estava perdendo os sentidos.
Tentei sair da pista, mas caí ali mesmo, sem conseguir respirar, sentindo que o peito ia explodir. Foi nesse momento que senti que estava morrendo.
A dor foi sumindo, e senti que flutuava para fora do meu corpo.
Achei que era apenas uma viagem da balinha, mas olhei pra baixo e vi uma multidão em volta do meu corpo no salão.
A sensação de leveza deu lugar a um pânico terrível, principalmente porque notei que a parede parecia ter vida e sombras saltaram em minha direção, grudando em mim, como se fossem sanguessugas.
Senti que aquelas coisas escuras me envolviam por inteiro e eram feitas de graxa ou piche, ou algo parecido, pois quanto mais eu tentava me livrar, mas elas grudavam na minha pele. Quis gritar, mas não conseguia, elas cobriam minha boca; então comecei a rezar baixinho e pedi ao meu anjo da guarda para me ajudar.
Orei a todos os santos que eu conhecia e, quase que imediatamente, senti que alguém me puxava daquele lugar e daquele piche todo.
Era como se alguém invisível tivesse me puxado pela nuca, como a gente faz com um gato, e eu não sentia dor, mas apenas alívio e uma sensação de segurança.
Só podia ser o meu anjo da guarda.
Fui carregado dali, enquanto ouvia uma música baixinha, que me acalmava cada vez mais. Tentei perguntar se estava morto, mas só ouvia a tal música.
Fiquei calado e me deixei levar, pois qualquer lugar seria melhor que estar perto daquelas coisas escuras. Fui sendo levado, até que comecei a ver um lugar que parecia ser um hospital, e ali estavam dezenas de pessoas observando imagens em telões.
As imagens foram ficando mais nítidas, e vi que elas assistiam às imagens da minha vida. Eram cenas da minha infância até os dias de hoje; e me vi criança saudável, correndo atrás de uma bola e, na seqüência, as cenas em que eu caía no salão da rave.
Então, pela primeira vez ouvi a voz de quem havia me salvado:
- Você recebeu um corpo saudável, mas olhe só o que você está fazendo com ele.
As cenas foram surgindo no telão, e vi imagens terríveis de quando comecei a encher a cara até cair e a me drogar todas as noites em que saia para as raves;
ao mesmo tempo, via todos os bailinhos que eu freqüentava na adolescência, e onde me divertia tanto.
Comecei a chorar, não por culpa, mas porque estava entendendo que realmente estava gradativamente me matando.
– Cuida bem do seu veículo físico!
- disse novamente a voz daquele ser, que eu não via, mas ainda estava ali do meu lado.
Fiquei com tanta vergonha, mas percebi que ele não me julgava e, quando achei que iria ouvir algum sermão, esse ser me abraçou, e senti tanto amor e compaixão, que comecei a rir como criança. Sabia que, mesmo fazendo tanta besteira, estava sendo protegido, não só por aquele ser, mas por todas aquelas pessoas que viam minha história naquele telão.
Então senti que começava a flutuar novamente, e vi o salão e as pessoas à minha volta, enquanto ia me encaixando no corpo.
Despertei, enquanto todos à minha volta me olhavam, tentando entender o que estava ocorrendo, e provavelmente pensando que eu estava apenas drogado; mas, pela primeira vez na minha vida, eu estava lúcido.
Frank, agora eu entendo que não somos só um corpo físico, e que há vida além...
Eles me deram uma nova chance, não foi?
Eu não sabia o que dizer, mas tinha certeza que Marcos precisava de orientação.
Tentei conversar com ele que eu estudava espiritualidade e projeção extrafísica há algum tempo, e que talvez ele tivesse tido uma EQM (experiência de quase-morte), ou na melhor das hipóteses, uma projeção forçada, mas que ele precisava chegar à conclusão sobre o que lhe ocorrera por si só.
Recomendei livros e sites sobre o assunto, sempre com o cuidado de não jogar nenhuma crença na cara dele, pois sabia que naquele momento ele iria acreditar em tudo o que eu dissesse para ele. Marcos agradeceu e se foi, pois tinha que trabalhar.
Eu continuei ali no café, pensando no que tinha ocorrido com ele e nas maneiras que o universo usa para acordar cada um de nós.
Tempos depois, fiquei sabendo que Marcos continuava indo às Raves, e que seus hábitos não tinham mudado muito.
A princípio julguei o rapaz, pensando que toda aquela experiência não o tinha ensinado nada, mas aí percebi o ridículo de achar que esse tipo de experiência possa transformar gente em santo.
Cada um tem sua história, sua lição, e só a pessoa envolvida sabe o que é melhor para si mesma.Voltei a encontrar o Marcos um ano depois do “dia em que ele tinha morrido”.
Ele parecia ser uma outra pessoa.
Bem mais forte, disse-me que todos aqueles sites com textos espirituais o tinham levado a fazer classes de Ioga, e que se sentia muito mais saudável, mas continuava indo às Raves e que não deixara de se divertir, apenas não precisava mais de balinha para ficar alegre ou para dançar, pois tudo o que ele precisava, agora, era só curtir e viajar na musica.

P.S.: Não sou contra ou a favor do uso de drogas, cada um com suas experiências. Apenas estou tentando passar adiante esse relato de um amigo, que, talvez, possa beneficiar outras pessoas.Londres, 12 de setembro de 2004.Notas:

* O nome da pessoa foi mudado, por questão de privacidade, mas o mesmo concordou em compartilhar sua experiência através dos meus escritos.- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005. Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos. Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista on line de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br

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